ISC - Idealizado em 1993, o Instituto Salerno-Chieus nasceu como organismo auxiliar do Colégio Dominique, instituição particular de ensino fundada em 1978, em Ubatuba - SP. Integrado ao espaço físico da escola, o ISC tem a tarefa de estimular a estruturação de diversos núcleos de fomento cultural e formação profissional, atuando como uma dinâmica incubadora de empreendimentos. O Secretário Executivo do ISC é o jornalista e ex-prefeito de Ubatuba Celso Teixeira Leite.
O Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK), coordenado pelo professor Arnaldo Chieus, organiza os documentos selecionados nos diversos núcleos do Instituto Salerno-Chieus (ISC). Seu objetivo é arquivar este patrimônio (fotos, vídeos, áudios, textos, desenhos, mapas), digitalizá-los e disponibilizá-los a estudantes, pesquisadores e visitantes. O Doc-LEK divulga, também, as ações do Colégio Dominique.

LEK - Luiz Ernesto Machado Kawall, jornalista e crítico de artes, é ativo colaborador do Instituto Salerno-Chieus (ISC) e do Colégio Dominique. É um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do Museu Caiçara de Ubatuba.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

TERRA TAMOIA - Coronel Ernesto de Oliveira

Gosto de sonhar e vou buscar no passado, ali por volta de 1936, o vulto nobre e esforçado de um ubatubense de verdade, Coronel Ernesto de Oliveira, inteligente e convincente no modo de tratar seus semelhantes, pois era Coletor Estadual na cidade, nas horas vagas advogava e quase sempre ganhava as causas de seus constituintes. Pai extremoso, trabalhava à luz de lampião, até altas horas da noite, para poder manter seus filhos estudando fora de Ubatuba. 

A primeira entrevista que tive com o senhor Ernesto de Oliveira foi motivo de funda surpresa para mim. É que eu, recém chegada de Santos, fora residir na Praia da Enseada e fizera essa acidentada viagem por mar na lancha “Ubatuba”, que apontava semanalmente na tranquila praia dos passados anos. 

Uma pequena venda dava o pão de todos os dias. Meu marido, turrão como ele só, resolveu não pagar os impostos de nossa pequena casa de negócios. Dizia-me que iria só negociar por quatro meses e não valia a pena pagar por tão pouco tempo. 

E eu, para quem as palavras dele eram lei, achei muito natural continuarem as coisas como estavam. O caso é que uma bela manhã me encontrava na praia, esperando Albino que estava em Caraguatatuba, quando veio ao meu encontro um cidadão descalço, de chapéu de palha, simpático, que, com extrema gentileza, fez-me ver que meu marido deveria pagar os impostos atrasados na Coletoria Estadual, da qual o Sr. Ernesto de Oliveira era coletor. E assim foi que no dia seguinte travei conhecimento com o Coronel, fidalgo no tratar, dono de fluente e castiça linguagem portuguesa, que me cativou logo. E desde esse dia em que, por ordem de Albino, paguei nossa dívida atrasada com o Estado, contraí também a maior de todas as dívidas, a de gratidão e constante amizade para com o Coronel Ernesto. 

Quando mudei da Praia da Enseada para a cidade, tornei-me vizinha da família do coletor. Ele e eu já éramos amigos de verdade. Muito mais tarde aprendi a admirar seus filhos, os quais, um a um, foram se formando e se tornando com o correr dos anos a família mais unida que já conheci, muito me orgulhando de ser por eles considerada. Deposito com estas humildes frases a minha saudade sobre o túmulo do ser que, quando vivo, concedeu a mim, uma desconhecida, a sua consideração de cavalheiro e a sua amizade de irmão. Bom dia Ubatuba Páginas 91/92.